domingo, 18 de agosto de 2013

Psicoletrando





Trote estudantil violento: prática que hostiliza o ser humano
                                                             Josimara Neves, psicóloga e escritora
                       (CRP-04/37147)
   Marília Neves, professora e escritora
  
 

                                                               Fonte: www.saiunojornal.com.br

Estamos em 2013 e determinados “universitários” continuam agindo de forma primitiva. Os chamados veteranos, estudantes que já ingressaram no ensino superior, parecem se divertir com cenas baixas e situações vexatórias a que submetem os calouros, alunos novatos.
             Para agitar a festinha ofertada aos que iniciam o ensino superior, os veteranos que se comprazem com essa prática obrigam os ''bixos” e as “bixetes” a ingerirem bebida alcoólica, a tomarem excessiva quantidade de água ou outras substâncias misturadas, as quais provocam vômito e afetam o estômago. Não bastasse isso, muitas vezes, jogam água fervendo e spray de pimenta nas costas dos novatos, obrigam-nos a vestir roupas que os constrangem ou mesmo a ficarem nus perante uma “seleta plateia” que se regozija em apontar-lhes  seus  defeitos físicos, assediando-os moral ou sexualmente. É o chamado “trote universitário ou trote estudantil”.
            Será que tal comportamento é condizente com o nível de ensino que os universitários possuem?
            Quem são os líderes do trote? Qual o seu perfil? Como foram criados? Quais suas crenças? Que valores possuem? Como persuadem os colegas a também realizarem o trote?
            O que leva os alunos a sentirem prazer diante do sofrimento alheio?
            O que as faculdades e universidades fazem a respeito do trote?
            De que forma as autoridades trabalham para coibir o trote?
            O trote é uma brincadeira ou um ato de violência?
            O que nós fazemos a respeito do trote?
            Já basta! Chega de bater palmas para os playboyzinhos inescrupulosos que mandam e desmandam na classe mais fraca, que vivem ostentando um glamour que não possuem, que corrompem o sistema, burlam as regras, ficam impunes e ainda são “financiados por pais displicentes, os quais preferem fingir que está tudo bem e comprar os filhos com brinquedinhos, objetos tecnológicos de última geração e um carro do ano quando são aprovados no ensino superior (qualquer instituição de ensino serve, desde que o status familiar seja garantido)!
            Chega de fingir que o caso não é conosco, que não nos diz respeito, que é bonito queimar o corpo dos calouros, intimidá-los com ameaças, torturá-los com palavras ofensivas, coagi-los em vez de parabenizá-los pela aprovação no vestibular!
            Chega de omissão, de alienação, de passividade!
            É necessário nos mobilizarmos a fim de extinguirmos o trote violento, punindo severamente  aqueles que teimam em tiranizar, escarnecer e machucar os que ingressam no ensino superior.
            O trote estudantil violento não é uma brincadeira de mau gosto, é crime e, portanto, requer denúncia, sanções adequadas e processos contra os alunos infratores, que deverão ser suspensos e até expulsos das instituições de ensino.
            Sentimo-nos frustrados por saber que, em nosso país, existem jovens que se assemelham a verdadeiros ditadores, disseminam ideias ignóbeis e levantam a pseudobandeira desse tipo de trote como forma de aproximação, de união entre os veteranos e os calouros, como se fosse possível conceber uma relação saudável entre opressor e oprimido.
            São nojentos os episódios de violência física ou psicológica, os quais mascaram uma alegria que não existe, tanto para os que praticam o trote (pessoas malresolvidas, que precisam mostrar que estão no poder a fim de atraírem público ou mesmo conseguirem ter “amizade” – bajuladores que vivem à sua custa por algum interesse pessoal) quanto para os que o sofrem, que, por sinal, não devem se render ao medo de serem excluídos caso não permitam fazer parte desse sistema estúpido.
            Segundo o professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura (Esalq), Antônio Ribeiro de Almeida Júnior , o fim dos trotes depende de ações mais enérgicas das universidades. No entanto, ele não vê vontade das instituições. "As universidades não estão interessadas em resolver a questão e disfarçam propondo trotes solidários e culturais. Existe muita maquiagem. Se a universidade quiser, tem poder e instrumentos para acabar com o trote”. (http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/03/trote-universitario-nao-e-tradicao-e-relacao-de-poder-diz-especialista.html/ Acesso em 18/07/13).
                Logo, se almejamos um país onde a educação seja sinônimo de criticidade, polidez, instrução, competência, cultura e cidadania, precisamos lutar contra ações medíocres – como o trote desprovido de sensatez e carregado de desejos vis – , as quais envergonham os brasileiros conscientes que estudam e trabalham a fim de se melhorarem a cada dia, contribuindo para o progresso da nação.
“Quando o ser humano permite que a ânsia pelo poder denigra a imagem d’aqueles que se encontram em condições desfavoráveis, assemelha-se aos animais irracionais. Portanto, imperativo que a consciência saiba discernir entre alegria real e projeções de venturas momentâneas tais como o trote violento”. (Marília Neves)
“O trote seria um ritual de passagem importante se não fosse tão mal executado como tem ocorrido ultimamente. Assim como o que diferencia o remédio do veneno é a dosagem, no trote, o que diferencia a brincadeira da desordem é o grau de intencionalidade do que se faz”. (Josimara Neves)


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