Trote
estudantil violento: prática que hostiliza o ser humano
Josimara Neves, psicóloga e escritora
(CRP-04/37147)
Marília Neves, professora e escritora

Fonte: www.saiunojornal.com.br
Estamos em 2013 e determinados “universitários”
continuam agindo de forma primitiva. Os chamados veteranos, estudantes que já
ingressaram no ensino superior, parecem se divertir com cenas baixas e
situações vexatórias a que submetem os calouros, alunos novatos.
Para agitar a festinha ofertada aos que
iniciam o ensino superior, os veteranos que se
comprazem com essa prática obrigam os ''bixos”
e as “bixetes” a ingerirem bebida alcoólica, a tomarem excessiva quantidade de
água ou outras substâncias misturadas, as quais provocam vômito e afetam o
estômago. Não bastasse isso, muitas vezes, jogam água fervendo e spray de
pimenta nas costas dos novatos, obrigam-nos a
vestir roupas que os constrangem ou mesmo a ficarem nus perante uma “seleta
plateia” que se regozija em apontar-lhes
seus defeitos físicos,
assediando-os moral ou sexualmente. É o chamado “trote universitário ou trote
estudantil”.
Será que tal comportamento é condizente
com o nível de ensino que os universitários possuem?
Quem são os líderes do trote? Qual o
seu perfil? Como foram criados? Quais suas crenças? Que valores possuem? Como
persuadem os colegas a também realizarem o trote?
O que leva os alunos a sentirem
prazer diante do sofrimento alheio?
O que as faculdades e universidades
fazem a respeito do trote?
De que forma as autoridades
trabalham para coibir o trote?
O trote é uma brincadeira ou um ato
de violência?
O que nós fazemos a respeito do
trote?
Já basta! Chega de bater palmas para
os playboyzinhos inescrupulosos que mandam e desmandam na classe mais
fraca, que vivem ostentando um glamour que não possuem, que corrompem o
sistema, burlam as regras, ficam impunes e ainda são “financiados” por pais displicentes, os quais preferem fingir
que está tudo bem e comprar os filhos com brinquedinhos, objetos tecnológicos
de última geração e um carro do ano quando são aprovados no ensino superior
(qualquer instituição de ensino serve, desde que o status familiar seja
garantido)!
Chega de fingir que o caso não é
conosco, que não nos diz respeito, que é bonito queimar o corpo dos calouros,
intimidá-los com ameaças, torturá-los com palavras ofensivas, coagi-los em vez de parabenizá-los pela aprovação no
vestibular!
Chega de omissão, de alienação, de
passividade!
É necessário nos mobilizarmos a fim
de extinguirmos o trote violento, punindo severamente aqueles que teimam em tiranizar, escarnecer e machucar os que ingressam no ensino
superior.
O trote
estudantil violento não é uma brincadeira de mau gosto, é crime e, portanto,
requer denúncia, sanções adequadas e processos contra os alunos infratores, que
deverão ser suspensos e até expulsos das instituições de ensino.
Sentimo-nos frustrados por saber que, em nosso país, existem
jovens que se assemelham a verdadeiros ditadores, disseminam ideias ignóbeis e
levantam a pseudobandeira desse tipo de trote como forma de aproximação, de
união entre os veteranos e os calouros, como se fosse possível conceber uma
relação saudável entre opressor e oprimido.
São nojentos os episódios de violência física ou psicológica, os
quais mascaram uma alegria que não existe, tanto para os que praticam o trote
(pessoas malresolvidas, que precisam mostrar que estão no poder a fim de
atraírem público ou mesmo conseguirem ter “amizade” – bajuladores que vivem à
sua custa por algum interesse pessoal) quanto para os que o sofrem, que, por
sinal, não devem se render ao medo de serem excluídos caso não permitam fazer parte desse sistema
estúpido.
Segundo o professor do Departamento de Economia, Administração e
Sociologia da Escola Superior de Agricultura (Esalq), Antônio Ribeiro de
Almeida Júnior , o fim dos trotes depende de ações mais enérgicas das
universidades. No entanto, ele não vê vontade das instituições. "As
universidades não estão interessadas em resolver a questão e disfarçam propondo
trotes solidários e culturais. Existe muita maquiagem. Se a universidade
quiser, tem poder e instrumentos para acabar com o trote”. (http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/03/trote-universitario-nao-e-tradicao-e-relacao-de-poder-diz-especialista.html/ Acesso em 18/07/13).
Logo, se almejamos um país onde a educação seja sinônimo de
criticidade, polidez, instrução, competência, cultura e cidadania, precisamos
lutar contra ações medíocres – como o trote desprovido de sensatez e carregado
de desejos vis – , as quais envergonham os brasileiros conscientes que estudam
e trabalham a fim de se melhorarem a cada dia, contribuindo para o progresso da
nação.
“Quando o ser humano permite que a
ânsia pelo poder denigra a imagem d’aqueles que se encontram em condições
desfavoráveis, assemelha-se aos animais irracionais. Portanto, imperativo que a consciência saiba discernir entre alegria real e
projeções de venturas momentâneas tais como o trote violento”. (Marília Neves)
“O trote seria um ritual de passagem importante
se não fosse tão mal executado como tem ocorrido ultimamente. Assim como o que
diferencia o remédio do veneno é a dosagem, no trote, o que diferencia a
brincadeira da desordem é o grau de intencionalidade do que se faz”. (Josimara Neves)
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