segunda-feira, 13 de janeiro de 2014


    Psicoletrando


   Sexting: identidades desnudadas, vidas sacrificadas!
Parte I

                                                  Josimara Neves, psicóloga e escritora
                  (CRP-04/37147)

   Marília Neves, professora e escritora



Para refletir sobre acontecimentos reais (e atuais), usaremos um pouco de ficção:
“O que você faz quando ninguém te vê fazendo?” Foi no embalo dessa trilha sonora que o casal (Marcos e Valéria) de namorados se divertiu como se não houvesse amanhã. Pegou a câmera fotográfica e, tal uma cena de filme, incorporou-se das fantasias mais audaciosas possíveis, mergulhou na profundidade do desejo e, em êxtase, deixou-se envolver pelo frenesi do momento. Entre ruídos e gemidos, murmúrios e sussurros, abraços e amassos, calor e fervor, o tempo foi passando, e ela estava ali, ligada em cada movimento, registrando a intimidade daquele momento.
Marcos tem 17 anos e Valéria, 16. Namoram há sete meses e se dizem eternamente apaixonados. Inicialmente, a jovem não apreciou a ideia da filmagem, contudo foi convencida pelo namorado, que, para conseguir o seu objetivo, elogiou-a, dizendo que a amava, que ela era linda, que tinha um corpo escultural e que tal atitude seria uma prova de amor. Vencida pela emoção e pelo excesso de ar que inflou o seu ego, resolveu não somente aceitar, mas também incorporar uma personagem erótica. Depois de concretizarem o ato, assistiram à filmagem juntos e se sentiram maravilhados ao se virem “atuando.”
A partir daquela noite, outras filmagens vieram... Até que uma briga –típica de um casal adolescente – colocou fim ao relacionamento (o qual não durara nem um ano). Valéria foi quem resolveu terminar, porém, Marcos não aceitou. Ele era “louco”, ou melhor, obsessivo por ela. Disse que se vingaria e lhe proferiu palavras de baixo calão.
Ela não levou muito a sério as ameaças do ex-namorado. Entretanto, certo dia, quando estava na sala de aula, recebeu uma mensagem pelo celular, de um número desconhecido:

“__  Oi, gostosa! Quanto é o programa?”

Achou estranho, mas pensou que fosse engano. Não tinha se preocupado, no entanto, depois daquela mensagem, outras centenas (sim, centenas!) chegaram, cada uma pior do que a outra, e todas com o mesmo conteúdo: piadas agressivas, relativas ao sexo; obscenidades, escárnio, denegrindo a sua reputação. Sem falar nos telefonemas de pessoas estranhas dizendo palavras chulas de cunho sexual.
Valéria levantou-se da sala, dirigiu-se ao banheiro e começou a chorar compulsivamente. Depois, sem mesmo pegar o material escolar, foi para casa e trancou-se no quarto. Estava sentindo um vazio misturado com um desespero que, na verdade, nada mais era do que a vergonha que se escondia por trás do medo. Já imaginava que isso tinha a ver com o ex- namorado.
Cansada de ficar deitada chorando, resolveu entrar na internet e, para a sua surpresa, ou melhor, decepção, o seu facebook estava literalmente bombando! Compartilharam um link de um vídeo no youtube que a mostrava completamente nua, tendo relações sexuais com o seu ex- namorado. Desesperada, chorava ainda mais e conjecturava:
“___ O que os meus pais irão pensar? Como a minha mãe irá se sentir ao ver o vídeo? E os meus irmãos, como reagirão?”
Aqueles pensamentos não a deixavam em paz... Viu-se no fim do poço, imaginou-se sendo alvo de chacotas na escola, pensou que nunca mais iria conseguir se relacionar com ninguém. Desesperou-se. Deparou-se com um labirinto sombrio, perdida, sozinha, sem saber por onde começar a procurar a saída. Sentiu-se no fim!
No outro dia, só se ouviam gritos de desespero da mãe, que, após arrombar a porta do quarto da jovem, com a ajuda dos outros dois filhos mais novos, defrontou-se com a cena mais chocante de sua vida: a filha, de apenas 16 anos, morta, amarrada  a um fio de extensão.

Um pouco sobre sexting...

Sexting – contração das palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagem) – prática por meio da qual meninos e, principalmente meninas,  produzem e distribuem, através de telefones celulares e da internet, fotos de seus próprios corpos nus ou seminus em poses provocantes e sensuais. Fonte: http://eaibeleza.com/

Essa história seria ficção se não fosse o reflexo do que está acontecendo com mais frequência do que imaginamos na vida real. Jovens que agem movidos pelo impulso, sem dimensionar as consequências. Consequências estas que, aliadas à incapacidade de resolver problemas e enfrentar as dificuldades, quase sempre, terminam em finais infelizes, para não dizer, catastróficos. O que era para ser apenas um vídeo íntimo se torna um filme exposto ao público e, assim como uma erva daninha, alastra-se pelas redes sociais, ganha adeptos e críticos, juízes e algozes, levando ao triste desfecho: “o suicídio.”
Josimara Neves
As redes sociais (importantes aliadas do progresso) tornaram-se palco de exposições esdrúxulas. Várias pessoas embarcam no pseudonavio das venturas momentâneas, destituídas de prazer real. Fazem questão de compartilhar tragédias, denegrir a imagem do próximo, curtir a desdita alheia e, assim, plantam sementes de: discórdia, mentira, infâmia, ódio, tristeza, revolta... Também curtem a hipocrisia, o sensacionalismo, vestem-se de anjos,  mascaram-se impiedosamente e agem feito animais irracionais! Com isso, o suicídio entre os jovens está aumentando – fato que nos deixa extremamente preocupados! De quem é a culpa? Existem culpados? Reflitamos.
Marília Neves




Nenhum comentário:

Postar um comentário