Psicoletrando
Parte I
Josimara
Neves, psicóloga e escritora
(CRP-04/37147)
Marília Neves, professora e escritora
Fonte: sudandays.blogspot.com
Para refletir sobre acontecimentos reais (e atuais),
usaremos um pouco de ficção:
“O que você faz quando ninguém te vê fazendo?” Foi no
embalo dessa trilha sonora que o casal (Marcos e Valéria) de namorados se
divertiu como se não houvesse amanhã. Pegou a câmera fotográfica e, tal uma
cena de filme, incorporou-se das fantasias mais audaciosas possíveis, mergulhou
na profundidade do desejo e, em êxtase, deixou-se envolver pelo frenesi do
momento. Entre ruídos e gemidos, murmúrios e sussurros, abraços e amassos,
calor e fervor, o tempo foi passando, e ela estava ali, ligada em cada
movimento, registrando a intimidade daquele momento.
Marcos tem 17 anos e Valéria, 16. Namoram há sete meses e
se dizem eternamente apaixonados. Inicialmente, a jovem não apreciou a ideia da
filmagem, contudo foi convencida pelo namorado, que, para conseguir o seu
objetivo, elogiou-a, dizendo que a amava, que ela era linda, que tinha um corpo
escultural e que tal atitude seria uma prova de amor. Vencida pela emoção e
pelo excesso de ar que inflou o seu ego, resolveu não somente aceitar, mas
também incorporar uma personagem erótica. Depois de concretizarem o ato,
assistiram à filmagem juntos e se sentiram maravilhados ao se virem “atuando.”
A partir daquela noite, outras filmagens vieram... Até
que uma briga –típica de um casal adolescente – colocou fim ao relacionamento (o
qual não durara nem um ano). Valéria foi quem resolveu terminar, porém, Marcos
não aceitou. Ele era “louco”, ou melhor, obsessivo por ela. Disse que se
vingaria e lhe proferiu palavras de baixo calão.
Ela não levou muito a sério as ameaças do ex-namorado.
Entretanto, certo dia, quando estava na sala de aula, recebeu uma mensagem pelo
celular, de um número desconhecido:
“__ Oi, gostosa! Quanto é o programa?”
Achou estranho, mas pensou que fosse engano. Não tinha se
preocupado, no entanto, depois daquela mensagem, outras centenas (sim,
centenas!) chegaram, cada uma pior do que a outra, e todas com o mesmo
conteúdo: piadas agressivas, relativas ao sexo; obscenidades, escárnio, denegrindo
a sua reputação. Sem falar nos telefonemas de pessoas estranhas dizendo
palavras chulas de cunho sexual.
Valéria levantou-se da sala, dirigiu-se ao banheiro e
começou a chorar compulsivamente. Depois, sem mesmo pegar o material escolar,
foi para casa e trancou-se no quarto. Estava sentindo um vazio misturado com um
desespero que, na verdade, nada mais era do que a vergonha que se escondia por
trás do medo. Já imaginava que isso tinha a ver com o ex- namorado.
Cansada de ficar deitada chorando, resolveu entrar na
internet e, para a sua surpresa, ou melhor, decepção, o seu facebook estava
literalmente bombando! Compartilharam um link de um vídeo no youtube que a
mostrava completamente nua, tendo relações sexuais com o seu ex- namorado.
Desesperada, chorava ainda mais e conjecturava:
“___ O que os meus pais irão pensar? Como a minha mãe irá
se sentir ao ver o vídeo? E os meus irmãos, como reagirão?”
Aqueles pensamentos não a deixavam em paz... Viu-se no
fim do poço, imaginou-se sendo alvo de chacotas na escola, pensou que nunca
mais iria conseguir se relacionar com ninguém. Desesperou-se. Deparou-se com um
labirinto sombrio, perdida, sozinha, sem saber por onde começar a procurar a
saída. Sentiu-se no fim!
No outro dia, só se ouviam gritos de desespero da mãe,
que, após arrombar a porta do quarto da jovem, com a ajuda dos outros dois
filhos mais novos, defrontou-se com a cena mais chocante de sua vida: a filha, de
apenas 16 anos, morta, amarrada a um fio
de extensão.
Um
pouco sobre sexting...
Sexting – contração das
palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagem) – prática por meio da qual
meninos e, principalmente meninas, produzem
e distribuem, através de telefones celulares e da internet, fotos de seus
próprios corpos nus ou seminus em poses provocantes e sensuais. Fonte: http://eaibeleza.com/
Essa história seria ficção se não fosse o reflexo
do que está acontecendo com mais frequência do que imaginamos na vida real. Jovens
que agem movidos pelo impulso, sem dimensionar as consequências. Consequências
estas que, aliadas à incapacidade de resolver problemas e enfrentar as
dificuldades, quase sempre, terminam em finais infelizes, para não dizer,
catastróficos. O que era para ser apenas um vídeo íntimo se torna um filme
exposto ao público e, assim como uma erva daninha, alastra-se pelas redes
sociais, ganha adeptos e críticos, juízes e algozes, levando ao triste
desfecho: “o suicídio.”
Josimara
Neves
As redes sociais (importantes aliadas do
progresso) tornaram-se palco de exposições esdrúxulas. Várias pessoas embarcam
no pseudonavio das venturas momentâneas, destituídas de prazer real. Fazem
questão de compartilhar tragédias, denegrir a imagem do próximo, curtir a
desdita alheia e, assim, plantam sementes de: discórdia, mentira, infâmia,
ódio, tristeza, revolta... Também curtem a hipocrisia, o sensacionalismo,
vestem-se de anjos, mascaram-se
impiedosamente e agem feito animais irracionais! Com isso, o suicídio entre os
jovens está aumentando – fato que nos deixa extremamente preocupados! De quem é
a culpa? Existem culpados? Reflitamos.
Marília
Neves
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